segunda-feira, 9 de março de 2020

 

     Os relacionamentos esfriam e deixam de ser "românticos", porque as pessoas deixam de ser quem elas eram. Seja por força externa ou não. 
Heráclito dizia que não se banha duas vezes no mesmo rio, a água que você tocou já passou, e está em constante estado de movimento. E assim somos nós. Mas em contrapartida, você pode contemplar o fato de conseguir se deliciar nessas novas águas, ou se lamentar não tocar na mesma que te deu a primeira sensação de toque, e isso é seguir.

Eu poderia ser a pessoa mais pessimista em matéria de amor romântico, mas não, porque nas vezes em que fui, eu me provei estar errada, todas as vezes que eu disse que nunca mais me permitiria amar alguém, eu me permiti depois, e essas vezes foram duas. 

Não posso definir a minha vida por uma ou outra experiência ruim, aí vem o clichê dos aprendizados, o colher a flor no lixão, e deixar pra traz todo o resto.

A vida é um eterno recomeço, mas a vida não é eterna.

Então eu não acredito que todo relacionamento esteja fadado ao fracasso, ou ao cansaço da enfadonha rotina. Se duas forças ativas atuantes, forem compatíveis o suficiente, e trabalhem juntas para um resultado em comum, da pra manter isso, da pra manter a paixão, da pra trabalhar os acertos e não acertos, porque afinal, ninguém nasce pronto, estamos em constante evolução e aprendizado, e é assim também com relacionamentos.

O maior vilão dos relacionamentos não é a rotina, nem o desgaste, nem o tempo que se conhecem, nem os defeitos. O maior vilão dos relacionamentos, assim como da vida num todo, é a psicoadaptaçao. É o "se acostumar", é o "já conquistei, não preciso mais me esforçar, eu não preciso me preocupar em tentar agradar, eu não preciso me preocupar em não magoar, eu não preciso me preocupar em tentar tornar o dia e a vida daquela pessoa mais incrível, porque eu já a tenho"

E não temos ninguém, nem nossos corpos são nossos, porque iremos perecer e em último estágio da cadeia alimentar e do equilíbrio, vamos morrer e nossa matéria se transformará, não levaremos nada.

Eu acredito no amor romântico, porque isso só acaba, quando acaba o interesse, ou mútuo, ou de uma das partes, o que acaba acarretando no desgaste da outra parte que tende a querer "levar no braço" até o final, mesmo no fundo sabendo, que um fardo feito pra dois, sendo carregado por um só, não pode ser levado muito além.

Das Unbeschreibliche


Sabe aquela música que você ama, e que você diz pra si e pra o mundo que é a música mais perfeita?
Pois é, nem ela é boa o suficiente.
Nem Schubert, nem Tartini, nem Vivaldi, nem  Tchaikovsky, nem Bach, nem Beethoven, nem Elvis e BB King, nem Beatles, nem Aretha Franklin... De Liszt a 1D, até hoje não existiu nenhum humano capaz de compor uma música que fosse precisa ao ponto de invocar em suas melodias, a explosão de oxitocina e dopamina, das quais sou uma assídua consumidora, e quase ingrata à serotonina que passam a ser liberados em minha corrente sanguínea, quando estou na sua presença, quando minha derme está próxima o suficiente à sua, quando o atrito entre nossos dedos, que consequentemente produz calor, aquece o principal órgão do meu sistema cardiovascular, quando o seu timbre penetra meu sistema auditivo, causando um êxtase timpaniano, aumentando a frequência de batimentos e irrigando o ponto central do meu sistema nervoso, que libera mais oxitocina, dopamina e serotonina, que "mau acostuma" todo meu corpo, que estando próximo ao seu, goza de toda infinidade de consequências boas e reações químicas, algumas decifráveis, a maioria delas, indescritível... Eu, agora, como adicta assumida, uso e abuso de todo meu limitado conhecimento anatômico, químico, reativo, cultural e científico, pra justificar o meu vicio, e o meu vicio é você, pra dizer que o amor é uma reação química, mas também é um sentimento, e esse sentimento tem movido a humanidade e tem sido responsável por inúmeras obras, criações, composições e roteiros, justamente por ser tão singular à sua maneira que se experimenta. De Shakespeare a Lispector, de Einstein à Tesla, de Nietzsche a Skinner, até hoje ninguém soube decifrar, definir, formular, explicar... De da Vinci à Picasso, não souberam pintar... De Michelangelo à Donatello, não souberam esculpir... Quem sou eu pra tentar verbalizar?
Só espero ser suficiente. Só espero ser. Só espero não precisar falar, pois não haveriam argumentos, músicas, explicações científicas ou psicológicas que pudessem me ajudar nesta tarefa.
Caso algum dia sinta dúvida (e eu espero que não tenhas), basta olhar nesses olhos heterocrômicos, olha o mais profundo que puder.
Eu não esqueço, nem nunca esquecerei aqueles olhos castanho escuros que li ontem de madrugada. Foi a coisa mais linda que li.
Ich liebe dich no mais profundo e visceral que qualquer pessoa possa ter sido na história.

Eu queria ser mais abrangente e citar Pitágoras, Tolstoi, Dostoiévski, Paracelso, Heráclito, Sócrates, Baumann, Platão, Schopenhauer, Renato Russo, Buda, Cora Coralina e Machado de Assis... Mas entre todos os caminhos a resposta seria -do latim- um grande nihil, ou seja, um grande nada.