segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Sonho de um verão qualquer

- Era um fim de tarde de domingo, estávamos na cabana a beira da praia.
       O zumbido do silêncio reinava por todos os lados, salvo o barulho das ondas que se quebravam. Bati na porta do seu quarto, entrei, ela estava sentada no escuro, olhando as folhas de coqueiro dançarem no vento, enquanto o brilho prateado da lua timidamente a iluminava.
Sentei-me ao seu lado, e pus me a fazer o mesmo. Não me atrevi a quebrar o silencio, apenas observei tudo.
      Eu podia sentir a maresia, o vento soprava suavemente sobre os meus cabelos, sobre a cama, um pouco de areia em um lençol ainda úmido de água salgada.
     Anoitecia, o mar estava calmo, o som das ondas eram como um doce canto. Sua respiração, os seus batimentos, aceleravam por algum motivo que não ousei questionar, apenas a olhei nos olhos, olhei o mais profundamente que pude, adentrei pela janela de iris cor de mel, nossos dedos se entrelaçaram, senti a macies de sua pele, o calor...
Como em uma sinfonia muda e perfeita, nos olhamos por muito tempo. Palavras se tornaram desnecessárias perante tudo o que dizíamos com os olhos.Levantei-me, tomei-na pelo braço e sutilmente a levava em direção a porta, saímos para caminhar descalças na areia. 
O reflexo da lua na água era como um imenso farol no horizonte, o céu estava extremamente estrelado e sereno. Estávamos olhando as constelações, deitadas lado a lado,
A areia não nos incomodava, suas mãos delicadas afagavam a minha nuca;
Ela deitou sua cabeça sobre o meu peito,
Senti o toque aveludado de seus lábios no meu pescoço,
Em um instante nossos olhos se cruzaram novamente,
E como em um ato ensaiado, nossos olhos se fecharam, nossas bocas se encontraram.
Tudo o que tínhamos era aquela singularidade do momento.
De repente, tudo silenciou, só o que restava era o nosso toque, 
Os nossos corpos em perfeita harmonia,
O coração descompassado de emoção, o ar que respirávamos era insuficiente.
Euforia, felicidade, emoção,
Nada podia definir aquele momento, aquela sensação...
Tudo o mais era irrelevante, o tudo éramos nós, a sós, nesse momento eramos um só, e isso era tudo o que importava...






quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Súplica Silente

       

Não há amanhecer que ilumine mais que o teu olhar,
    Não há relatos existentes de tamanha beleza e esplendor,
    O que seria da vida ordinária se não a observasse através das lentes do amor?
                                  
                                  

- Vazia! Como uma garrafa de Whisky; 
Que saciou a sede e o paladar de quem a bebeu, 
                                  Deixada de canto,
Sem serventia, 
Na sombra de quem entorpeceu, 
E que agora adormece, suspira, esquece, soluça...
                               Assim como o canto do pássaro, 
O assoviar do vento, o ronco dos trovões, 
Não passam de ruídos.



A menos que esteja vestido com a capa da sensibilidade, 

Ruídos passam a ser sinfonias,
A paisagem do horizonte se torna arte,
Tamanha percepção se sucedia
De um retalho de memoria,
De um aroma de um passado a que se fazia parte.
  

Quero me vestir de simplicidade,
Quero me encandear com a luz do teus olhos,
Quero me perder no labirinto das tuas curvas,
Quero matar a saudade,
Quero viver de verdade,
Quero me embriagar nessa voz que me entorpece,
Quero me queimar no teu seio que me aquece...


...Gritava assim, ambiciosos devaneios contidos de um sobrevivente que não mais ousava sair da sua zona de conforto, e preferiu não arriscar...Por dentro um mar de ressaca, por fora, a calmaria de um lago, de águas profundas onde não se deixava mais que ninguém as mergulhasse.


terça-feira, 4 de agosto de 2015

Cicatrizes

                       Certa vez estava eu no metrô, quando um menino muito curioso entrou com a sua mãe, e ao sentar-se ao meu lado, notou a cicatriz que carrego no joelho. Não satisfeito com aquela marca incomum ele colocou o dedo no lugar e perguntou para mim: - "Moça, isso dói?" Eu sorri meio sem graça, e respondi: - Não mais...
                    - Cicatrizes podem ser de varias texturas, cores e tamanhos diferentes, mas elas tem algo em comum: Todas são consequências de ferimentos, todas elas sangraram, todas elas foram motivo de muita dor um dia. Porém, mesmo suscetível a infecções e bactérias, mesmo sendo profundo e difícil de sarar, um dia, se o corte não foi letal, com certeza se tornou uma cicatriz. É como dizem "o que não te mata te fortalece", clichê, porém verídico. 
               Conheço pessoas que tem vergonha das suas marcas e cicatrizes, passam pomadas, maquiam ou até enfrentam processo cirúrgico para a remoção da mesma. E existem aquelas que fazem da cicatriz uma arte, (afinal, tatuagem nada mais é que uma ferida cicatrizada com tinta) e essa particularmente eu adoro.
                 As cicatrizes nos contam histórias, as cicatrizes nos lembram da brevidade da nossa vida, nos lembra que não há ferida que não se cure, não há sangramento que não estanque, e não há dor que não passe. As cicatrizes nos lembram o quão forte podemos ser, o quão forte já fomos. Elas podem não agradar tanto assim os nossos olhos, mas fazem parte de quem somos, é uma parte da nossa história. 
               As cicatrizes estão aí pra te mostrar que você é capaz de superar, de seguir em frente, de se curar, e por mais que olhando aquela marca isso te lembre de como estava ferido um dia, já não dói e entrou pra caixa de experiencias acumuladas. As cicatrizes estão aí pra mostrar que mesmo uma marca feia e "inútil" tem o seu devido valor, tem a sua história, como tudo na vida, tem a sua história e seu devido valor. São miudezas que formam delicadamente uma totalidade, são detalhes que nos torna únicos.
              
              Mas existe também aquele tipo de cicatriz que é mais difícil de ser notada: As cicatrizes "invisíveis", também conhecidas como cicatrizes da alma, essas são as mais intensas e enraizadas...
Feliz daquele que tem cicatrizes na alma, pois este com certeza passou por muita coisa, e não se deixou abalar. Existe também, no mesmo nível de profundidade, aquelas feridas que não saram, e essas são as mais letais, são aquelas que te enganam, que quando você pensa ter se curado, ela está lá, e quando você menos nota, ela volta a sangrar, e ela dói muito mais que uma ferida comum. Ela te mata aos poucos, como um parasita vai consumindo a tua essência, vai esgotando todos os teus estoques de vontade de viver. Com o tempo você passa a ser  uma pessoa amarga e que não vê mais as belezas da vida, foca apenas na dor que te consome, aquela dor que vai e volta sem pedir licença, aquela dor que devora a tua alma e te faz querer desistir de tudo;
            

        Aquela dor que não cessa, aquele sangue que não estanca, aquela agonia que não para.