terça-feira, 4 de agosto de 2015

Cicatrizes

                       Certa vez estava eu no metrô, quando um menino muito curioso entrou com a sua mãe, e ao sentar-se ao meu lado, notou a cicatriz que carrego no joelho. Não satisfeito com aquela marca incomum ele colocou o dedo no lugar e perguntou para mim: - "Moça, isso dói?" Eu sorri meio sem graça, e respondi: - Não mais...
                    - Cicatrizes podem ser de varias texturas, cores e tamanhos diferentes, mas elas tem algo em comum: Todas são consequências de ferimentos, todas elas sangraram, todas elas foram motivo de muita dor um dia. Porém, mesmo suscetível a infecções e bactérias, mesmo sendo profundo e difícil de sarar, um dia, se o corte não foi letal, com certeza se tornou uma cicatriz. É como dizem "o que não te mata te fortalece", clichê, porém verídico. 
               Conheço pessoas que tem vergonha das suas marcas e cicatrizes, passam pomadas, maquiam ou até enfrentam processo cirúrgico para a remoção da mesma. E existem aquelas que fazem da cicatriz uma arte, (afinal, tatuagem nada mais é que uma ferida cicatrizada com tinta) e essa particularmente eu adoro.
                 As cicatrizes nos contam histórias, as cicatrizes nos lembram da brevidade da nossa vida, nos lembra que não há ferida que não se cure, não há sangramento que não estanque, e não há dor que não passe. As cicatrizes nos lembram o quão forte podemos ser, o quão forte já fomos. Elas podem não agradar tanto assim os nossos olhos, mas fazem parte de quem somos, é uma parte da nossa história. 
               As cicatrizes estão aí pra te mostrar que você é capaz de superar, de seguir em frente, de se curar, e por mais que olhando aquela marca isso te lembre de como estava ferido um dia, já não dói e entrou pra caixa de experiencias acumuladas. As cicatrizes estão aí pra mostrar que mesmo uma marca feia e "inútil" tem o seu devido valor, tem a sua história, como tudo na vida, tem a sua história e seu devido valor. São miudezas que formam delicadamente uma totalidade, são detalhes que nos torna únicos.
              
              Mas existe também aquele tipo de cicatriz que é mais difícil de ser notada: As cicatrizes "invisíveis", também conhecidas como cicatrizes da alma, essas são as mais intensas e enraizadas...
Feliz daquele que tem cicatrizes na alma, pois este com certeza passou por muita coisa, e não se deixou abalar. Existe também, no mesmo nível de profundidade, aquelas feridas que não saram, e essas são as mais letais, são aquelas que te enganam, que quando você pensa ter se curado, ela está lá, e quando você menos nota, ela volta a sangrar, e ela dói muito mais que uma ferida comum. Ela te mata aos poucos, como um parasita vai consumindo a tua essência, vai esgotando todos os teus estoques de vontade de viver. Com o tempo você passa a ser  uma pessoa amarga e que não vê mais as belezas da vida, foca apenas na dor que te consome, aquela dor que vai e volta sem pedir licença, aquela dor que devora a tua alma e te faz querer desistir de tudo;
            

        Aquela dor que não cessa, aquele sangue que não estanca, aquela agonia que não para.

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